quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As ironias do Estado e a dificuldade em reparar injustiças

Perdeu seus documentos pessoais? Faça um BO e nunca mais se tranquilize.
Foi furtado/roubado e levaram seus documentos pessoais? Faça um BO e definitivamente nunca mais se tranquilize.

Ontem fui surpreendida com um contato de um velho cliente que imaginei que fosse um ex-cliente.

Ele é um dos meus poucos motivos para exercer meu talento (modéstia mode on) na área criminal, tendo em vista a peculiaridade do caso.

Em 1998 quando ele ainda estudava em uma universidade de uma cidade qualquer de seu Estado Natal, teve todos os seus docuemntos pessoais objeto de um roubo num sinal de trânsito.

Imediatamente, óbvio, como qualquer um de nós faria, a ocorrência foi realizada onde todos os documentos objeto do roubo foram levados. Incluindo o RG dele, expedido em seu estado natal.

Tranquilizado, curso concluído, ele mudou de estado, casou e não nos convidou. Claro, ele também não me conhecia, me conheceu na dor. hehehehehe

Bom, um belo dia, lá nos idos de 2004, ou 2005, não me lembro ao certo, projetando exercer a sua cidadania no Estado em que estava então domiciliado e residente, ele decide transferir o seu título de eleitor.

Surpresa! Surpresa! Surpresa! Se não fosse a amizade mantida com o funcionário do Cartório eleitoral, provavelmente eu não estaria contando esta história aqui, pois ele descobriu que havia um mandado de prisão expedido, bem como a suspensão de seus direitos políticos, proveniente da comarca de Divinópolis, 100 km aqui de Belo Horizonte. Ele nunca esteve em Divinópolis. Mas era para ter sido preso naquele momento.

Obviamente de cabelos em pé com aquela novidade, ele decidiu contratar um colega daquela comarca para ver a situação e a proporção do problema.

Ele, o cliente, havia passado naquela cidade, em 1998, e assaltou o Banco do Brasil e por este crime foi indiciado, denunciado, julgado e sentenciado há uns bons anos de prisão.

O colega ribeirinho então decidu ajuizar uma Revisão Criminal perante o Tribunal de Justiça daqui, anexando um calhamaço de documentos que diziam que o cliente nunca esteve em divinópolis, mas que havia passado todos os anos bem longe daquela cidade. Isso porque o cliente estava com uma bela proposta de emprego no exterior e não podia emitir seu passaporte, tendo em vista os direitos políticos cassados.

E foi aí que eu fui procurada, no fim de 2008.

Detectei primeiro um equívoco do colega ribeirinho ao sair fuçando o processo em Divinópolis. Percebi que naquele processo não havia prisão em flagrante e que o inquérito policial havia sido aberto por meio de portaria. Daí, esmiuça o processo de cima para baixo e de baixo para cima, visita a Secretaria de Defesa Social, cópia de prontuário da passagem do cliente a instituições penitenciárias mineiras, vista a Nelson hungria (casa do Bruno da Elisa Samúdio hoje), descubro que na verdade, em 2008, o cliente estava sendo processado, também por assalto a Banco do Brasil, em Nova Serrana (ainda sem conenação, mas vi ontem que a sentença neste processo saiu no fim de 2009), em Divinópolis, em Manhuaçu (lá ele foi absolvido) e em Manhumirim (conenado lá desde 1998), onde finalmente a quadrilha de asaltantes foi detida, indiciada, denunciada, julgada e condenada.

Vislumbrei a rota criminosa e o sujeito que se fez passar pelo cliente foi muito astuto. Se apresentou como ele, exarou diversos tipos de assinatura, tirou fotos e mais fotos em Nova Serrna, tudo se passando pelo meu cliente. Recebeu visitas em penitenciária, entrou na escola para melhorar os estudos (veja, meu cliente é pós-graduado) e, por fim, escapuliu em fuga em 2002, para toda a minha tristeza.

Como nesse mundo existe solução para tudo, menos para a morte, propus ao cliente a melhor solução para o problemaço e entre sumiços e acertos de honorários, decidimos começar a fazer alguma justiça nesse país de injustos que não guarda documentos apreendidos, não tem um banco de dados coerentes e, se Deus permitir e os Juízes também, receberemos juntos, mediante nossos filhos, calro, graças as filas do Precatórios, uma boa indenização do Estado de Minas Gerais.

Então, o porquê disso tudo? Porque ele perdeu sua identidade, fez um Bo, mas mesmo assim, nesse país de esperto, um esperto por ele se fez passar.

Boa qaurta a todos.

Nenhum comentário: