quinta-feira, 9 de setembro de 2010

VARA DELIVERY...

Faz tempo que eu ando com insatisfação até no talo (ui!) com o meu exercício profissional, o que dá ensejo a outro post chorumelas, mas não é sobre isso que eu vim falar hoje.

Vim contar que, mesmo insatisfeita, até que, as vezes, as passagens pelo fórum me trazem alguma diversão.

Tinha uma audiência marcada hoje para as 16:30 e resolvi chegar uma hora mais cedo com a finalidade de adiantar o expediente de uma publicação e tirar cópia de um processo em outra vara.

Fui primeiro na vara das cópias. Enquanto o atendente tentava se localizar e ao memso localizar o processo dentro da secretaria da vara, um seujeito me aborda no balcão:

Ele: A Sra. é advogada? (dói em mim os outros me chamarem de senhora primeiro porque não tenho cara de senhora, segundo porque não sou casada)
Eu: Sim. (secamente, afinal já me revoltei com o Sra.)
Ele: A sra. sabe me dizer se saiu o exame de DNA já tem que começar a pagar a pensão?
Eu: Depende.
Ele: Depende de que?
Eu: Do que o juiz andou despachando.
Ele: Ah.... mas assim, eu vim ver o resultado e eu sou o pai, mas ainda não registrei a criança, eu tenho que pagar?
Eu: como eu disse, depende, pois cada caso é um caso. O juiz pode ter decidido que você deve já pagar os provisórios, ou não. Depende.
Ele: Ah... mas assim, eu já posso pegar a menina para visitar?
Eu: Se a mãe dela não deixar, não pode, pois ainda não consta no registro da criança que o Sr. é o pai.
Ele: Ah... mas assim, se a mãe deixar, eu posso? (afff...)
Eu: Claro, se ela tem esse bom senso, você já o pai geneticamente falando, pode sim.
Ele: Ah... eu fui intimado um mês antes do meu casamento... a Sra. tá aqui separando?
Eu: Não, sou solteira, só namoro.
Ele: Ah.... a muié ficou com medo d'eu largar dela e já falou que ia pedir indenização dos móveis, do enxoval... ela pode?
Eu: Depende, cada caso é um caso.... como já disse.
Ele: Ah... a senhora advoga nessa área ou só criminal? (gente, eu tenho cara de porta de cadeia?)
Eu: Não, atualmente só advogo para parentes.
Ele: Ah.... a sra. tem escritório lá no centro?
Eu: Não, como eu já disse só advogo para parentes e estou largando a advocacia porque presto serviço para a empresa do meu namorado.

Silêncio. O atendente voltou sem o meu processo e segui para a vara seguinte.

Essa próxima está praticamente um delivery. Você marca o dia e hora para que seu cliente e demais interessados sejam ouvidos, isso, claro, se não houver nenhum litígio.

Enquanto aguardava no balcão escuto um caloroso assunto atrás de mim.
Dr.: Mas ele não te deixa ver a criança?
A Cliente: Não, todas as vezes que vou combinar de buscar ele cria algum empecilho, inventa um compromisso, uma atividade.
Dr.: É, vamos ver o que ele alega e como serão os laudos. Ele já está aí?
A cliente: Sim, é o que está de camisa vermelha, de costas.
Dr.: E o advogado dele? Também, aquela figura esquisita que só o orienta a fazer coisas loucas.
(risadas)
Não entendi o último comentário naquele momento e a atendente pediu para eu me dirigir até a porta da sala do gabinete do juiz para conversar com o assessor e marcar minha audiência delivery.
O sujeito de vermelho estava parado ao lado desta porta e pude conferir o babado. Camisa vermelha coladinha Armani, calça fashion, sandalinha, corte de cabelo impecável no estilo porco-espinho com gel. Arriscaria no mínimo uma coisa meio bi.
O advogado, terno desalinhado, idoso, tinta castanho louro claro no cabelo. Poderia chutar um botox, mas preferi não encarar para analisar melhor.

Comentários:
1. Alienação parental está mesmo na moda (se você não ouviu isso ainda veja neste link: http://paisporjustica.blogspot.com/2010/09/globonews-entrevista-o-autor-do.html);
2. O advogado tem sempre que lembrar o seu cliente de como se vestir para as audiências. Corredor de fórum não é passarela de moda e nem corredor de puteiro.
3. De fato, temos que escolher a dedo o pai dos filhos da gente.
4. Idoso que pinta o cabelo... mimata!

Tudo entendido, compromisso marcado, vamos subir para o corredor dos crimes.

Esperando meu cliente que nem apareceu para a audiência, pude apreciar alguns momentos.

O primeiro foi uma das acusadas da audiência anterior a minha com cara de paisagem sem seuqer saber porque estava sendo processada.... ficou ali boiando, falando nem a e nem B comigo e só me limitei a parguntar do advogado dela. E novamente vestimenta inadequada para a ocasião: bermudinha e chinelinho.

O segundo foi a felicidade de um grupo de 10 pessoas, na vara de tóxicos, acabando de receber a notícia de que o parente/amigo havia sido absolvido. Comemoravam como em um gol de final de copa do mndo e uma das mulheres passou correndo na minha frente, no corredor, contando para alguém no celular, como quem dá a notícia do nasicmento de um filho. Interessante.

Apesar de toda a minha insatisfação, ainda gosto dessa rotina e dessas coisinhas forenses, que acabam me divertindo, mas ainda penso que a advocacia não é mais para mim. Já deu e já saturou.

A solução apra isso merece também um outro post.

Boa noite.

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