sábado, 1 de outubro de 2011

A extrema felicidade e a extrema tristeza


O lugar é o mesmo, de novo. É familiar, a mesma parede, o mesmo movimento, as mesmas pessoas.

Já estive lá pouco mais de 3 anos, 9 meses e 6 dias, para encontrar o maior e melhor presente que a vida podia me proporcionar: a minha filha.

Foi um caminho longo, mas breve, até chegar na extrema felicidade de tê-la em meus braços: trabalho de parto tranquilo, dilatação ideal.

Foi rápido até o momento em que a vi e constatei que não se tratava de um bebê carequinha, afinal, mãe e pai carecas, só podia ter um bebê careca. Mais vi o bebê mais lindo do mundo, do rosto mais redondo e vermelho, e mais angelical, e mais cabeludo.

Não imaginei que ao sair daquele lugar com ela em meus braços, que os anos passariam, de forma serena e tranquila, com alguns tropeços da vida, mas muitos ganhos, dentre os quais ela ganhou também o segundo pai. E eu ganhei o marido.

O Marido que ontem esteve comigo naquele lugar tão familiar, buscando força sabe-se lá de onde para se sustentar, para me sustentar. Para não me deixar abater com a extrema tristeza que vivíamos ali em meio de pessoas que estavam aguardando viver a extrema felicidade que eu vivi há quase 4 anos.

Eu saí desse lugar familiar ontem, que um dia me acolheu, porque encontrei uma profissional que não soube me acolher e ouvindo os instintos que retumbavam em meu coração, procurei acolhida em lugar similar, mas com pessoas que entendiam o sofrimento que eu estava vivendo.

Sabiamente Rodrigo diz que problema e sofrimento devemos eliminar. E foi o que resolvemos ontem ao sair da USG de 12 semanas de nossa gestação e constatar que o coração de nosso bebê já com nomes, já amado, já esperado, parou de bater com 8 semanas e 4 dias.

Nos restou a dor, o vazio, a frustração, as expectativas interrompidas e o problema persistindo que poderia prolongar ou não o nosso sofrimento.
Procurei o mesmo lugar e não deu. Procurei o lugar semelhante e deu.

Nesta madrugada fui submetida ao procedimento de curetagem necessário nesse caso para que déssemos prosseguimento a nossas vidas, afinal é essencial continuar a caminhada.

Esta manhã eu não sai com um bebê no colo, cheia de extrema felicidade. Sai com uma imensa tristeza de não ter chegado lá.

Está doendo, está machucando, luto para não ficar me questionando, e até mesmo me culpando.

Apego-me na lembrança da extrema felicidade que senti e sinto quando sai daquele lugar com uma menina linda no colo, que hoje quando cheguei em casa me acolheu, também.

E com a certeza de que mesmo que o meu caminho seja passar por esses percalços, que eu continue e persista no que tanto planejamos, sonhamos e queremos.

Tenho Cacaia, tenho Rodrigo, e apesar da extrema tristeza, busco essa extrema felicidade que nós lutamos dia a dia para vivenciar, para alcançar.

E assim deixo o meu relato da minha gestação interrompida.

Bom final de semana.

4 comentários:

Telma Maciel disse...

Flavinha, fico triste com a notícia...mto mesmo! Mas é levar a vida, procurar os caminhos, continuar sendo feliz! E que sejam MTO felizes!
um beijo

***... Nana e Nenê ...*** disse...

Oxi... Que triste. Nada que a gente fale nessas horas ajuda muito, né? Mas saiba que estamos aqui pro que precisar, ok?
Bjus em todos aí

Jéfi disse...

ô mocinha, eu não tenho muito o que dizer da sua situação. fiquei extremamente emocionado com seu texto.
o importante nessa hora é que você não se culpe de modo algum, as coisas no mundo acontecem de formas inexplicáveis, mas por outro lado, é tudo uma montanha russa.
como você disse, teve um momento de extrema felicidade, depois um de extrema tristeza, o inevitável agora é que o próximo momento seja de extrema felicidade de novo, obedecendo o correr da montanha russa que é viver.
espero que você se recupere logo, e que possa mostrar pro mundo e pra sua Cacaia esse sorrisão bonito que tem.
beijão e força sempre.

Walesca Bernardes disse...

Flavinha, querida... vi o endereço do seu blog no Facebook e vim conferir e me deparei com essa triste notícia. Amiga, receba aí meu abraço super apertado. Mais do que me solidarizar com v., sinto sua tristeza. Passei por isso no ano passado, quando em 1º de fevereiro tive um sangramento. Estava completando 10 semanas de gestação. E o desenrolar, v. já conhece. Fui ao médico, que disse que o colo do útero estava fechado, mas mandou fazer um ultrassom e pronto: não tinha mais batimentos. No dia 09/02 passei pela curetagem. Sim, é muuuita tristeza. Chorei, chorei, chorei. E acho que é bom, sim, chorar. E por muitas e muitas noites seguidas fui dormir pedindo a Deus que eu acordasse no outro dia e tivesse tudo sido só um pesadelo e que meu bebê estivesse ali em mim ainda. Mas, olha, eu sei que é difícil, mas é preciso manter a esperança. Por certo como eu, v. já deve saber tuuudo sobre aborto espontâneo, então, v. sabe que não foi sua culpa e sabe que isso é super normal de acontecer e sabe que não havia nada que v. pudesse fazer para que não acontecesse. E, provavelmente, v. estava com o sentimento de que algo estava errado porque seu corpo estava te avisando (o meu me avisou em forma de sonho!) que havia algo errado, mas isso não quer dizer que havia tempo de fazer nada... então, amiga, é preciso superar (tá, eu sei que é difícil!)... Mas, olha, comigo tudo aconteceu em fevereiro de 2010 e em fins de maio eu já estava com a maravilhosa notícia de minha gravidez do Otto!!! Hoje penso, que tive de superar aquilo para Otto viesse... quanto mais tempo tivesse levado pra superar, provavelmente, mais difícil seria voltar às tentativas e mais demoraria pra Otto chegar. Então, amiga, peço-lhe que pense que além do Rodrigo, além da Cacaia, v. tem o próximo bebê e, em nome dele, v. superará tudo isso. Sabe uma coisa que eu fiz? No dia em que fui na minha médica marcar a curetagem, deixei meu carro estacionado no Diamond, e passando lá por dentro para atravessar o quarteirão, vi uma loja de coisas de bebês. Fui até lá, vi um sapatinho laranjado lindo e o comprei. Apelidei-o de "sapatinho da esperança". Desde, então, esse sapatinho ficou no meu criado mudo. Em cima dele. Passei pela curetagem, voltamos às "tentativas", fiquei grávida, e ele esteve sempre lá. Durante a gravidez do Otto, quando ficava com medo, pegava o parzinho de sapatos e rezava um Pai-Nosso (ufa! Foram muitos Pai-nossos!). Quando Otto nasceu, depois que cheguei em casa, peguei-os, me "despedi" e guardei-os. Hoje estão na gaveta. Na segunda gaveta do criado mudo.
Boa sorte e força!
Walesca