quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Oi, eu sou Maria Clara e tenho dois pais.


É com essa resposta que normalmente minha filhotinha reage ao ser questionada sobre o lado paternal de sua vida.

Para explicar melhor, pois acredito que alguns visitantes não conheçam essa parte de minha vida, tenho que fazer um retrospecto peculiar de nossas vidas.

Quando a pequena tinha 1 ano e meio de idade eu terminei o relacionamento que mantinha com o pai dela. Como toda separação, muitas consequências surgiram dessa decisão, como criação, pensão e visitas.

Sem sombra de dúvida a que mais abateu foi a questão da relação pai-filha, já que o pai dela sempre viveu em São Paulo e nós em Belo Horizonte.

Fiquei alguns meses “curtindo” uma vida de solteira, saindo com amigos, colegas de trabalho, conhecendo pessoas. Foi bom até que apareceu a gestão atual, Rodrigo.

Rodrigo é assumidamente um persistente, já que não tive por ele paixão a primeira vista. Ele entrou num longo (e muitas vezes doloroso) processo de conquista entre o encontro no estádio, a ida no Açaí e o dia que liguei para ele, de São Paulo, falando que sim, só queria ficar com ele, namorar com ele, ser a mulher dele (nossa, que emoção! Rs).

Eu gostei dele aos poucos, devagar e sempre. E seria hipocrisia minha não admitir que uma das coisas que contribuiu para o tanto que o amo hoje é o fato dele ter se dado bem com a minha filha desde o dia que eles se conheceram e ela o chamava de “Odigo”. Mãe é essa coisa né, tem que conquistar o filho, para ter o coração da mãe.

De lá para cá foram muitas músicas cantadas no violão, muitas “dedeiras”, algumas brigas, fazer dormir, levar ao médico, brincar, brincar e brincar. Em algumas ocasiões tenho a nítida sensação de ter não uma criança em casa, mas duas.

Com a afetividade crescendo e a relação se consolidando e a minha decisão consciente de deixar a minha vida profissional para acompanhá-lo (ele trabalha em obras sem lugar definido há 10 anos), a visão de família para a MC foi se consolidando, cada um com seu papel.

Da visão de se ver como a filha, a mim como a mãe (óbvio), o curso natural dessa história foi vê-lo como pai.

Em nenhum momento desde que começamos a namorar, depois morar juntos em Belo Horizonte (ele vinha aos finais de semana, pois a obra da vez era o Rio de Janeiro) e definitivamente juntos aqui em Paracatu, forçamos para que ela o chamasse de pai, não obstante a figura paterna já estar consolidada. E o papai Rodrigo está aí, para cima e para baixo, ao levantar, ao acordar, nas celebrações, na educação, na correção das más criações, na divisão do “chipt” e do chocolate.

As relações sociais também se convergiram naturalmente para isso, por mais que, visivelmente, se vê que não há uma relação biológica (minha filha é branquela, o Rodrigo é moreno, e nas palavras dele, um preto, rs). Ela se refere aos parentes dele como vovó, vovô, tios e tias, como se refere aos meus parentes. E a recíproca deles é idêntica: amam, mimam e (poucas vezes) corrigem.

E aí vocês me perguntam: cadê o pai dessa menina?

Respondo como ela, ela tem dois.

O Alair hoje mora na Bolívia, realizando um grande sonho que é estudar Medicina e voltar para o Brasil e conseguir sua licença e CRM, e aí dar o que quiser e puder a nossa filha.

Escolha difícil, óbvio, mas acredito que ele o fez de forma consciente, pois o custo afetivo disso é igualmente alto: a distância, a ausência, a falta de oportunidade em ver a filha, os primeiros anos dela sem presença.

Deve doer muito para ele, pois para mim também dói.

O que fazemos, como família, como mãe e papai Rodrigo, é mostrar a ela o quanto ela é uma menina de sorte tendo dois pais. Cultivamos sim a memória dela em relação ao pai que, agora, está longe. Ela vê as fotos, ela fala dele e conversamos com ela sobre isso, quando ele consegue, eles se falam ao telefone.

Olha, também, novamente, não serei hipócrita de que tudo são flores. Já briguei muito com o pai dela por conta dessa ausência, pois por mais que nós cultivemos, um mínimo requer que seja feito por ele, mas tentamos levar tudo assim, pois entendemos ser o melhor para ela, agora, nessa fase da vida dela.

Ficou grande, não é mesmo?

É porque eu nunca imaginei que fosse viver essas relações afetivas tão intensamente, pois eu as estudei muito na faculdade de Direito: relação afetiva, relação biológica, pai biológico, pai afetivo.

Famílias são erguidas e são destruídas quando se leva numa boa ou quando não se sabe conduzir isso e a minha luta e convicção diária é que faço tudo o que posso, e acredito que os dois pais da minha filha, também fazem.

Uma quinta maravilhosa para você.

Flávia.

Um comentário:

Walesca Bernardes disse...

Tá, pode achar esquisito... mas depois de tanto tempo sem nos ver, sem nos falar, amiga, estou devorando seu blog. E estou descobrindo uma Flávia ainda melhor do que a do tempo de faculdade (e eu já amava aquela Flávia de lá!). Vc deve ser uma mega mãe, hein?!
Estou felicíssima de ver que v. encontrou seu amor!!! E que está curtindo tudo ao máximo...!